quarta-feira, 4 de novembro de 2009

BAUHAUS - Parte III

(Artigo escrito para o site X-DESIGN no período de 2000/2002)




História e Política


Durante a sua existência, a Bauhaus enfrentou vários problemas de ordem política, pois uma escola com características revolucionária e questionadora, inevitavelmente, acaba gerando polêmicas, e estas atingiram tanto o corpo docente quanto os governos locais.

No período quer vai de 1919 a 1924, a sede da escola foi na cidade de Weimar. Em 1923 o Conselho Municipal exigiu uma exposição dos alunos, a fim de provar a validade dos investimentos na escola e, além disso, a população via os estudantes boêmios com desconfiança, pois parte da renda da cidade era destinada a custear seus estudos. Infelizmente , a Bauhaus não produzia resultados palpáveis e preocupava a Gropius, o fato dos alunos gastarem mais tempo na teorização do que na produção. Apesar de Gropius preferir esperar um aumento da produção dos seus alunos, a exposição foi realizada. Obteve êxito extraordinário, e fora aclamada pelas críticas da Europa e a América. Com a eleição do Partido Popular da Alemanha, conservador, as acusações contra a Bauhaus penetraram mais nos âmbitos oficiais, principalmente com a associação do partido com o artesanato. A escola rescindiu seu contrato com o Estado de Weimar em 31 de Março de 1925.

Entretanto, o presidente do Município de Dessau (pequena cidade industrial na região do carvão) Dr. Fritz Hesse oferece abrigo para a construção de uma nova sede para escola. Como meio de custear as obras, houve um acordo com o Município que encomendou três importantes projetos:


- as próprias instalações da Bauhaus

- um complexo habitacional

- uma permuta de trabalho


Com isso a Bauhaus tornou-se auto-suficiente e elaborou uma série de propostas inovadoras para um extenso número de produtos. O conjunto de casas e edifícios dos mestres, projetados por Gropius, tornaram-se referência da moderna arquitetura alemã.

Em 1928, Walter Gropius demitiu-se após várias críticas sobre o custo da manutenção da escola, pois estas tornaram-se bastante pessoais, retirando-se ao exercício privado da arquitetura. Quem assumiu a direção foi o arquiteto suíço Hannes Mayer, marxista ativo, leva a escola a abandonar o estilo elitista do antecessor. Mayer levou a escola a uma direção mais técnica em detrimento da abordagem artística. Substitui o artist - designer pelo industrial designer, imbuindo sua visão funcionalista no ensino. O designer passa a se identificar mais com o engenheiro do que com o artista. Os mestres foram substituídos pelos professores. Com sua abordagem social, Mayer faz a Bauhaus produzir mais em favor da demanda popular: habitações e mobiliários de baixo custo, direcionados ao subúrbio de Dessau, programa de construção de móveis populares na criação da Escola Sindical de Bernau. A produção da escola encontra um mercado consumidor mais aberto, coincidindo com a recuperação econômica alemã.

Porém, as atitudes marxistas de Mayer , chocavam-se com a filosofia política de Dessau, aliando o descontentamento do rumo que a escola tomava , Fritz Hesse o demite e, em seu lugar, assume Ludwing Mies Van de Rohe, por indicação de Gropius em 1930.

Retomando a filosofia original, a Bauhaus buscava o realismo funcional, perfeição formal e uso de materiais mais nobres. Embora Mies tivesse posto fim as atividades políticas da escola, ela continuou sendo mal vista pelo Partido Nazista. Segundo eles, a Bauhaus patrocinava uma arte degenerada, sem vitalidade e decadente em relação ao "dinâmico espírito alemão". Somados a isso, corriam as críticas às ideologias esquerdistas de membros da escola.

Em 1932, os nazistas tomaram o poder em Dessau, forçando a escola a mudar-se para Berlim, numa fábrica abandonada de telefones, sob o nome de Instituto Superior de Pesquisa Técnica. Porém, seis meses mais tarde, em Julho de 1933, a Gestapo ocupa a escola.

Ali se encerrava quatorze anos de atividades artísticas.



Legado


Paradoxalmente, foi com o fechamento da escola que sua filosofia difundiu-se internacionalmente. Fugindo do nazismo, professores e estudantes da Bauhaus espalharam-se pelo mundo e transmitindo seus conhecimentos e pensamentos oriundos da escola.

Walter Gropius foi nomeado diretor da Escola de Arquitetura de Harvard em 1937 e com Marcel Breuer, criou uma empresa privada de arquitetura em Cambridge. Mais tarde em 1946, fundou The Architects Collaborative, empreendimento que serviu para orientar a arquitetura moderna. Moholy - Nagy fundou a New Bauhaus em Chicago. Josef Abers foi lecionar no Black Mountain College, na Carolina do Norte e depois na Escola de Design da Universidade de Yale. Mies Van der Rohe trabalhou no Instituto de Tecnologia de Illinois e Herbert Bayer como diretor artístico, numa agência de publicidade em Nova York, que chegou a ter pelo menos uns vinte graduados da Bauhaus. O reflexo esta nos arrojados arranha-céus da cidade. Outras escolas com o mesmo princípio da Bauhaus foram surgindo, no Japão, Holanda Hungria e Suíça.

Após a 2ª Guerra Mundial, em 1954, um ex estudante da Bauhaus, Max Bill com a ajuda dos irmãos Scholl, funda a Hochule Für Gestaltung, na cidade de Ulm, Alemanha. Sob a filosofia de que a melhor forma é a que vende mais, a "Gute Form", Bill não conseguiu evoluir no meio industrial. Desgostou o corpo docente com sua estandartilização formal e foi substituido por Tomás Maldonado em 1956. Maldonado substituiu o sistema de ateliers por oficinas de construção de protótipos e laboratórios fotográficos, alegando ser uma involução utilizar os métodos de ensino de 40 anos atrás. A escola preocupou-se em construir a forma de modo a ser totalmente controlável, mensurável e sem qualquer referência visual, valendo-se de um projeto analítico e funcionalista bauhausiano. Em 1968 é fechada por dificuldades financeiras.

Em 1964, é fundada no Brasil a primeira escola de desenho industrial, a ESDI, na cidade do Rio de Janeiro, seguindo os padrões da Escola de Ulm.

Em 1993 a Bauhaus é reaberta em Weimar e ,em 1999, alguns estudantes chegam ao Brasil para realizar um estudo de reaproveitamento formal e arquitetônico nas favelas do Rio de Janeiro.



Herman Faulstich





Mestres da Bauhaus em 1926. À partir da esquerda: Josef Albers, Hinnerk Scheper, Georg Muche, László Moholy-Nagy, Herbert Bayer,Joost Schmidt, Walter Gropius, Marcel Breuer, Wassily Kandinsky, Paul Klee, Lyonel Feininger,Gunta Stölzl, Oskar Schlemmer.

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