quarta-feira, 4 de novembro de 2009

BAUHAUS - Parte II

(Artigo escrito para o site X-DESIGN no período de 2000/2002)




Filosofia de Ensino


Na Bauhaus, coexistiam o pensamento artístico - filsófico e o técnico - industrial. O objetivo da escola era formar o profissional imbuído dessas características e crítico o suficiente para adapta-los a qualquer projeto. Segundo Gropius: "O projeto de um grande edifício e o de uma simples cadeira diferencia-se apenas na proporção, não no princípio".

O currículo era dividido em sete materiais: metal, madeira, argila, pedra, têxteis, cor e vidro. Para estudar as relações de formas e chegar a soluções gerais, dividia-se a abordagem em três:

- observação - onde seria estudado a natureza e a análise de materiais

- representação - definida como estudo de técnicas de construção, desenho técnico, desenho de projetos, geometria descritiva e desenvolviemento de modelos.

- composição - onde se estudava a teoria das cores, das formas e do desenho.

O aprendizado começava com a permanência, por um período de seis meses, na Oficina do Principiante, que tinha por objetivo liberar os alunos de preconceitos artísticos e encoraja-los a buscar novas soluções nas questões do design. Após esse período, seguiam-se três anos de rigoroso aprendizado num ofício à escolha do estudante ( artes gráficas, marcenaria, cenografia, gravura, cerâmica ou tecelagem). Os cursos eram ministrados conjuntamente por um artista e um técnico, onde o aluno empenhava-se em chegar a uma solução estética funcional , na melhor maneira possível de ser fabricada em série, que segundo Gropius deveria ser "clara e orgânica, despida de quaisquer disfarces ou artifícios". A forma do objeto, primeiramente deveria ser determinada pela sua função e em seguida pelas conveniências da produção mecânica. Simultaneamente às práticas da oficina, o aluno estudava geometria, desenho, teoria das cores, composição e materiais.

Após esse período, o aluno prestava um exame perante os mestres da escola e técnicos das oficinas para receber a "carta de oficial da Bauhaus". Para aqueles que que desejassem prosseguir com os estudos, começava a fase do estágio nas áreas de construção, por exemplo em indústrias,canteiros de obras e cursos complementares como engenharia, desenho técnico e materias de fabricação. Concluída essa fase, o aluno recebia o título de Mestre da Bauhaus. A formação não era específica , pois os alunos saíam, de acordo com a sua vocação, desenhistas, arquitetos, projetistas ou professores.

O que diferenciava a Bauhaus ( e teoricamente hoje, qualquer curso superior) era a capacidade de produzir massa crítica. Indivíduos que colaborariam para a evolução da sociedade e do país, na sua especialidade.

A solução dos problemas da forma mais simples possível, era um dos objetivos do curso. Certa vez Josef Albers, pintor de renome e professor na Oficina do Principiante, pediu aos seus alunos que construíssem com jornais velhos, "algo mais do que têm nesse momento", sem utilizar cola ou tesoura. Desejando-lhes sorte, saiu da sala. Ao voltar ali estavam uma série de trabalhos dos alunos representando figuras, barcos, aviões, animais, que classificou como "produtos de jardim-de-infância que teriam sido melhor executados com outros materiais". Apenas um aluno (ex-estudante de arquitetura) havia chegado a uma solução que agradou o professor: ele dobrou a folha ao meio, colocado-a em pé. Albers explicou que o jornal, normalmente, sem rigidez e com "ar indolente" apenas visível de um dos lados, quando largado em uma superfície, apresentava-se agora firme e direto sobre as suas finas extremidades, permitindo assim a leitura de ambos os lados. O problema fora solucionado de forma simples. Outras experiências semelhantes utilizando madeira, arame, metal e fósforos, faziam despertar nos alunos originalidade e espontaneidade na solução dos problemas, mais tarde levados no desenvolvimento de projetos.



Tipografia






Seguindo a filosofia da simplicidade na resolução dos problemas formais, a Bauhaus inovou radicalmente também na tipografia. Visava uma comunicação efetiva e limpa de floreios e excessos no design dos tipos, criando as fontes sem serifas.Matéria muito importante em Dessau, o estudo das letras possuia duas disciplinas no curso introdutório. Destacaram-se no estudo Laszlo Moholy Nagy e Herbert Bayer.

Nagy criou a teoria de construção de fontes e seu ensino didático, que foram publicados no livro, "Staatliches Bauhaus in Weimar 1919-1923", onde lançava o pensamento da clareza e objetividade no desenvolvimento de um alfabeto gráfico: "Tipografia é um instrumento de comunicação. Ela deve comunicar claramente e da forma mais urgente possível".

Herbert Bayer, estudante e mais tarde professor da Bauhaus, possuia as mais radicais opniões sobre o assunto. Detestava o uso das serifas, que achava desnecessárias assim como as capitulares: "Nós não falamos em maiúsculo ou minúsculo", refletia no livro Bauhaus 1919 -1928. Argumentava que possuindo apenas um tamanho, o uso das fontes seria mais fácil. Em 1925, a Bauhaus parou de usar as maiúsculas em seus textos. No período entre 1925 - 27, Bayer criou a fonte "Universal" e passou a trabalhar apenas usando papeis da Deutschen Normenausschuss ( Comissão Alemã de Norma, que serviu de base para para as normas brasileiras e é utilizada quando um assunto está omitido) e reduzindo seu espectro de cores a apenas dois: preto e vermelho.

Esbarrando no conservadorismo alemão (o uso das letras góticas era característica do povo germânico), as alterações das fontes não foram bem vistas, tanto pelo povo quanto pelas autoridades do país. A irritação ficou ainda maior quando a Bauhaus deixou de usar as capitulares. Uma peculiaridade da língua alemã, é que todo substantivo tem sua primeira letra maiúscula e, como na maioria das línguas, o alemão também usa no início dos nomes próprios e no início das orações. Para efetivar essa mudança, teria que haver uma alteração no comportamento social e gramático, o que seria difícil numa sociedade conservadora do tipo da alemã. Entretanto, foi esse radicalismo filosófico que definiu o comportamento da Bauhaus perante a história.

Junto das fontes aserifadas, a Bauhaus, na parte gráfica, valia-se da geometrização das formas. Com inspiração construtivista, o uso das formas agudas acompanhava a tendência projetiva dos objetos, juntamente com a adição de linhas guia e pontos nas formas.




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