quinta-feira, 5 de julho de 2012

Querido Facebook...

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Querido Facebook,

Semana passada tive a verdadeira noção de que não passo de um mortal qualquer, mais uma pessoa entre bilhões nesta bola azul, um pontinho insignificante no universo infinito. Fui ao banheiro e a obra de arte saiu agigantada e seca prejudicando o anel. A coisa ficou dolorida pacas, mal podia sentar. Passei um dia, de pé, na vã esperança de que fosse sarar sozinho.

No segundo dia tive vontade de ir ao banheiro; não fui. Medo! Mal podia sentar, imagine fazer aquilo? Passei o dia todo atento a qualquer sensação na área de escape, torcendo para que o esquilo não saísse da toca. Não consegui me concentrar em mais nada naquelas eternas 16 horas de intensa e paranóica vigília. Nutri-me como uma planta - à base de água e luz - para que não produzisse outra daquelas.


No terceiro dia não deu para segurar. Fiz, e graças a todos os deuses, semideuses e seres mitológicos não doeu tanto, mas ainda continuava desconfortável. Ergui-me do trono esfuziante e contente por ter superado mais uma etapa difícil na minha vida quando a sorte deixou de sorrir para mim: eu espirrei. Eu nunca percebi que a rosca se mexe quando espirramos. Aliás, eu nunca percebi que ela se mexe em qualquer movimento que a gente faça!!! O centro do homem não é o coração, não é o umbigo, cérebro ou a alma é a rosca, o anel, o butão, o zóio, as pregas, o cu. Ao espirrar eu senti uma fisgada na portinha e pensei em desespero: "putaqueopariucaráleoquemerda". Eu me senti um nada. Uma ameba. Perdi toda e qualquer auto-estima naquele momento. Meio desbussolado, andei igual a um pato em direção ao banheiro, abaixei as calças e coloquei a mão: o rubro liquido da vida brotara. Limpei aquilo e, ao olhar o papel, me senti menstruado. Mulheres, eu sei o que é menstruar agora. Eu as entendo um pouquinho mais. Se tivesse Modess de bunda eu juro que colocava naquele momento.

Nas horas de desespero recorro a única pessoa que não nega ajuda, aquela santa, idolatrada, pura, a bondade em pessoa: a mamãe. Já experimentada da vida, o ser luminoso indicou um remédio. Perguntei com nó na garganta temendo a resposta: "- Não é supositório, né mãezinha?" E a sorte me esboçou um sorriso através daquela face severa: "- Não meu filho, é um gel, onde já se viu supositório pra isso? Deixa de ser bundão!"

Adquiri o tal remédio na vã esperança de aliviar o sofrimento até chegar o dia da consulta. O apetrecho, de forma incomodante fálica, consiste numa bisnaga com um bico plástico, comprido, vazado dos lados por onde sai o ungüento. Demorei alguns minutos achando uma posição para realizar a tarefa, consegui imitando uma tartaruga virada de cabeça para baixo com as pernas arreganhadas. Untei bem a fôrma e espalhei generosamente - fazendo uma lambança, claro, mas tudo bem. Então, como se as nuvens negras de um dia tempestuoso se abrissem, descendo anjinhos banhados por luzes divinas ao som da Primavera de Vivaldi, uma sensação diferente inundou-me: passei a sentir, entre os glúteos, um frescor! Um friozinho! Parecia Gelol!!! Não sei do que consiste a panacéia mas ela fez sumir a dor! Ainda bem que não existe igreja perto da minha casa, senão eu me converteria (mas eu postei uma daquelas fotinhas bregas de felicidade no Facebook)! Fui dormir feliz na sensação refrescante.

No dia seguinte, alegre e pimpão, apliquei novamente aquela maravilha; na posição da tartaruga tombada fiz a ginástica e pronto. Saí de casa contente e, como a felicidade só é eterna enquanto dura - e sempre é pouco - o efeito colateral se fez presente: passar o dia com o rabo melado é terrível. Deus dá, Deus tira; deveria ter me convertido ontem à noite. Depois de algumas horas a pasta fica lá, cada vez mais presente; que sensação incômoda! Parece que as pessoas estão vendo o deslizar perfeito dos glúteos entre si no coeficiente de atrito zero. E a vontade imensa de coçar? Acho que rebolava de leve para ver se conseguia algum alívio; tenho certeza que as pessoas reparavam naqueles trejeitos esquisitos; eu sentia seus olhares, eu via que elas cochichavam entre si e me olhavam depois… deviam estar falando de mim! Tenho certeza!!

Sentindo os efeitos psicológicos negativos do processo invadindo o meu ser, fui ao banco. Terminais fora do ar. Na terceira agência, de seis, apenas dois funcionando e uma fila enorme. Como tinha que pegar o dinheiro, fiquei ali, em pé não podendo fazer mais nada se não sentir aquela maldita viscosidade. Então um sujeito fura a fila fingindo conhecer uma moça que estava saindo de um terminal e começa a usar o caixa. Um senhor na minha frente chama a atenção do escroque e eu logo me exalto: "Você não é marido dela???" Aí eu, já nervoso, jogo meus cachorros no indivíduo. Começou um bate boca, o cara tentando justificar o injustificável eu nervoso, com a bunda emplastada me enervando ainda mais. Ficamos ali na jorro de testosterona e acabei por injuria-lo como "malandro"! Chamei varias vezes mas ele não tentou me agredir limitando-se a tentar me convencer da própria inocência, não sei se os meus mais de 1,90 m e cento e três quilos contribuiriam para isso, mas ele se foi. Os guardinhas do banco nada fizeram para acabar com o bate boca. Eles deveriam saber, profissionais da vigilância como são, devem intuir essas coisas, conseguem ler as pessoas de longe para saberem se configuram ameaça, que não deve se meter com um homem furioso, da minha compleição física, de rabo melado.

Chegou o dia da consulta. Parecia um animal caminhando para o matadouro, uma criança contrariada indo ao seu primeiro dia de aula, uma mulher saindo do salão com um corte de cabelo ruim. A minha vida ia passando rapidamente: revivi meus melhores momentos, meus amigos, namoradas, bons momentos….MAMÃE! Religiões foram inventadas em momentos como esse, de total desespero onde achamos que algum milagre poderá alterar a inexorável realidade. "Devia ter rezado mais, devia ter ido mais a missa.. ah, São Judas Tadeu!!!" Já era tarde para o arrependimento. Entrei e me expus ao demônio de branco. Para a minha sorte, o Criador ouviu a sua ovelinha desgarrada e o problema se resolveu com alguns remédios prescritos.

Uma dedada e quatro supositórios depois me considero uma pessoa melhor, mais humilde, que sabe da irrelevância das coisas materiais e do papel central do cu na existência humana.

Herman
(Cusciente do Cucentrismo da Vida)

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