Jasão e a serpente
Se os heróis da mitologia estavam em poemas como a Ilíada e a Odisséia e na tradição oral, hoje eles caminham entre nós.
Um herói, por definição, era um humano, aparentemente normal, capaz de feitos além do que se esperava de uma pessoa, transcendendo o comum. Tais heróis eram parte da mitologia que tinha como função colocar o homem em contato com o seu inconsciente - e assim com o transcendente - ou transmissão de valores morais.
Recentemente, na cidade de Taubaté, pudemos ver essas idéias em ação: um militar aposentado vestiu-se de Batman para participar de uma campanha para a paz, devido ao alto índice de criminalidade envolvendo menores na região. Andy Trevisan (50 anos), auxilia a polícia da cidade no "combate as forças do mal" através de palestras pelas escolas e bairros. Segundo a Major Eliane Nikoluk, comandante do 5º Batalhão da Polícia Militar do Interior:
“É a figura do herói, despertando no jovem que vale a pena ser do bem, vale a pena ser bom, lembrar de valores positivos de respeito, respeito às leis”
Batman de Taubaté
Na Tailândia tivemos outro exemplo há três anos quando um bombeiro vestiu-se de Homem-Aranha para salvar um menino autista que subiu no parapeito do terceiro andar da sua escola e ameaçou se jogar. Sonchai Yoosabai voltou ao quartel e pegou uma das fantasias que utilizava para demonstração de combates a incêndios em escolas (a outra era do Ultraman). Encarnado como o herói, o bombeiro conseguiu fazer o menino caminhar em sua direção e assim salvá-lo.
Homem-Aranha tailandês
Por traz das máscaras e roupas coloridas se esconde um poder milenar que move a raça humana desde o seu princípio: os arquétipos.
Os arquétipos, segundo Carl Jung, são "imagens universais que existiram desde os tempos mais remotos" no inconsciente humano que se manifestam nos sonhos e em narrativas. São representações de forças primitivas comuns a toda humanidade, reunindo qualidades sensíveis a percepção involuntária sendo aceitas instantaneamente. A figura do "herói" é uma delas, bem como a do "sábio ancião", a do "mestre" etc.
Os exemplos de heróis acima citados vem das histórias em quadrinhos, que valendo-se das forças arquetípicas, construíram uma legião de fãs já há quase 100 anos, não apenas por esses conceitos "transcendentes" mas também pela massificação dos meios de comunicação que os tornam onipresentes em nossas vidas, como os cultos aos deuses do passado - e aos atuais também.
Os quadrinhos, como um grande desfile de arquétipos, demonstram que são uma força de relevância em nossa cultura podendo ser utilizados para grandes fins; como no caso do Batman de Taubaté, pois não acaba-se com a criminalidade prendendo bandidos, mas fazendo com que eles não sejam criados.
Arquétipo em ação
As histórias em quadrinhos sempre foram subestimadas por terem o seu público inicial o infantil, pois as crianças respondem melhor as figuras coloridas e aos seus feitos irreais. Mas, com o tempo, elas foram perdendo terreno para outras formas de diversão na sociedade de consumo e os leitores tornaram-se adultos e adolescentes. Podemos perceber isso hoje mais facilmente com a produção cinematográfica que retira os quadrinhos do antigo nicho tradicionalmente conhecido. Mas os heróis serão sempre para crianças, as menores de idade e as que estão dentro dos adultos.
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